E o que define a prática clínica da psicanálise?
O último ponto destacado talvez seja o mais significativo dentre os três e demarca uma especificidade do tratamento psicanalítico: ele ocorre tendo a transferência como seu motor, o que somente é possível ao preço do abandono não somente da hipnose e outras formas de sugestionabilidade, mas também, abandono de um ideal de sujeito definido positivamente. A transferência estabelece um modo de vínculo baseado nos afetos que são projetados na figura do analista a partir da suposição de saber que é feita sobre ele. Por isso, além da psicanálise ser uma cura através da fala, Freud a define também como uma transformação através do amor. Na cena analítica, não estamos destinados a apenas rememorar os fatos de nossa história, mas a repeti-los, e é justamente por ser uma experiência afetiva que seus efeitos ultrapassam os limites da consciência e produzem efeitos inconscientes. Mas isso só pode ocorrer através de um movimento específico de abstinência e de trabalho sobre o eu do analista. Passar do seu eu para o lugar do analista é uma operação que demanda um cuidado especial destinado à contratransferência, ou seja, a forma como o analista se coloca na cena transferencial envolve um modelo de destituição de suas fantasias e interesses pessoais que demanda formação, análise e supervisão. O lugar do analista que nos é designado por Freud constitui-se ao preço do abandono de formas diretas de influência que levariam o analisando a um lugar específico construído nas miragens do analista a respeito do que seria saúde, desenvolvimento, sucesso ou o que quer que o valha. O desejo do analista não deve ser o de que o analisando torne-se algo que componha uma cartilha de saúde ou normalidade: o desejo do analista é desejo de análise, cabendo ao analisando fazer disso a síntese que lhe for mais eticamente alinhada ao seu desejo inconsciente. Logo, se a influência do analista tornar-se direcionada a um resultado previamente escolhido, sua técnica será sugestiva ao invés de analítica.
Como funciona o tratamento psicanalítico?
Numerosas suposições fundamentam as teorias por trás da psicanálise. Em primeiro lugar, existem três funções dentro da personalidade de todos – o id, o ego e o superego. O id, compreendendo tanto o instinto quanto os impulsos fundamentais básicos, é energia inconsciente; também inclui tendências agressivas e sexuais. A mente consciente, ou o ego, serve para manter o id sob controle, exercendo uma influência moderadora. Finalmente, o superego representa a realidade externa, incluindo pensamentos, sentimentos e comportamentos conscientes, que refletem os costumes e valores dos pais ou da sociedade.
Esses três componentes formam o modelo estrutural do que conhecemos como personalidade. A interação entre os três apresenta uma luta pelo domínio, que ocorre dentro de cada pessoa. O tratamento psicanalítico ajuda a aliviar as tensões subjacentes que ocorrem entre o id, o ego e o superego. Na tentativa de equilibrar essas três funções mentais, os pacientes devem revelar seus pensamentos e sentimentos inconscientes.
Na maioria das terapias psicanalíticas tradicionais, o paciente se deita em um sofá enquanto o terapeuta se senta atrás do paciente para evitar contato visual. Essa posição ajuda o paciente a se sentir confortável, para que ele possa chegar a um nível mais íntimo de discussão com o psicoterapeuta.
A terapia psicanalítica normalmente compreende um curso de tratamento de longo prazo. Os clientes geralmente se encontram com seu terapeuta pelo menos uma vez por semana e podem permanecer em terapia por vários anos.
Técnicas Psicanalíticas
Uma variedade de técnicas terapêuticas é usadas durante a psicanálise, todas elas empregadas na tentativa de maximizar o insight e ganhar consciência do comportamento do paciente. Alguns dos métodos mais populares incluem:
Análise dos sonhos — Na psicanálise, a interpretação dos sonhos é usada para revelar pensamentos inconscientes. Freud pensava que ideias e sentimentos reprimidos afloravam à superfície da mente por meio dos sonhos. No entanto, o conteúdo dos sonhos é frequentemente alterado. Portanto, o psicanalista deve ajudar o paciente a interpretar e compreender a substância do sonho para descobrir seus significados ocultos.
Associação livre — Durante a associação livre, o paciente é encorajado a falar sobre qualquer coisa que vier à mente livremente. O psicanalista pode ler uma lista de palavras aleatórias e o paciente simplesmente responde com as primeiras associações que ocorrem. Memórias reprimidas muitas vezes surgem durante o processo de associação livre.
Interpretação — O psicanalista ajuda o paciente a explorar memórias e narrativas pessoais em detalhes e, ao fazê-lo, analisa-as. O terapeuta procura alguns temas comuns nas histórias do paciente. Um deles, o chamado “deslize freudiano”, ocorre quando os pacientes acidentalmente revelam algo importante durante uma conversa aleatória. O terapeuta psicanalítico fornece uma interpretação da escolha inadvertida de palavra ou frase do paciente.
Transferência – Os pacientes se envolvem em transferência quando transferem sentimentos que tiveram por alguém em seu passado para o presente. Às vezes, a transferência ocorre entre o paciente e o terapeuta. Os pacientes podem aplicar certos sentimentos em relação ao terapeuta que realmente se relacionam com alguém de seu passado.